Hoje sinto-me sem qualquer inspiração para escrever mas apetece-me fazê-lo. O dia foi mais um, mas começou com uma notícia menos positiva, diria menos negativa e depois dessa outra. Ambas levaram-me a perguntar o que é de facto a vida? O que é de facto importante? Viver!? O que é viver então?
Tudo na minha vida parece ser um conjunto de peças de Dominó que durante meses/anos vou colocando uma a uma no local certo, até que um erro ou um movimento mais expontâneo deita tudo a perder.
Gostava que tudo fosse diferente mas para que tal aconteça eu terei de ser diferente, terei de colocar de lado a esta fugaz expontanedade dos meus sentimentos. Contudo essa é a peça de Dominó que parece não cair... E isso leva-me ao cansaço.
"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
-Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,P
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço..."
Alvaro de Campos